segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Vandalismo de Estado

Fonte da imagem: Sol da Guarda

De Boas Intenções Está o Inferno Cheio

É-me particularmente difícil escrever este texto…Aprendi a amar estes ulmeiros em criança e, por causa deles, aprendi a amar todas as árvores. Vê-los assim, decepados, humilhados, despojados da sua grandeza é pior que vê-los cortados pela base.


A história desta tragédia é fácil de contar. Apesar de terem sobrevivido, durante décadas, à grafiose e a outras doenças, estes centenários ulmeiros, classificados em 2008, apresentariam, no presente, algumas podridões, a juntar a situações de queda de ramos que, obviamente, não agradariam aos donos dos carros estacionados à sua sombra.

O responsável do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), da delegação da Guarda, como quem falámos ao telefone, confessou-nos a falta de meios dos serviços para realizar um estudo sobre o estado dos ulmeiros e efetuar a manutenção das árvores. Daqui à catástrofe foi um passo, ou seja, com a pretensa justificação da falta de meios, o ICNF autorizou a poda deste conjunto monumental de árvores por um elemento da Guarda Nacional Republicana (GNR), alegadamente com conhecimentos de poda de árvores.

Dito assim, parece anedota, pese embora o resultado final dê mais vontade de chorar, do que de rir. Não duvido que as intenções do ICNF da Guarda e do militar da GNR que executou esta poda tenham sido as melhores. Mas, como diz o título deste texto, de boas intenções está o inferno cheio.

A Guarda tinha uma alameda de ulmeiros única na Europa; agora tem uma “alameda restaurada” um pouco à imagem do restauro do fresco do Ecce Homo feito pela tristemente famosa dona Cecilia Giménez, numa igreja espanhola. Também neste caso, feita com a melhor das intenções…

O que ocorreu na Guarda é demasiado grave para poder ser justificado com a falta de meios ou boas intenções. Ulmeiros centenários rareiam na Europa, resultado da devastação provocada pela grafiose, doença que, nas últimas décadas, matou milhões de árvores por todo o continente (só no Reino Unido terão sido mais de 25 milhões). Agora imagine-se a importância patrimonial e biológica, não de um, mas de 11 ulmeiros com 200 anos!

Alguém duvidará que caso tivesse sido pedida ajuda institucional, vários especialistas, nacionais ou estrangeiros, ofereceriam os seus conhecimentos para diagnosticar estas árvores e proporem a melhor solução para tentar garantir a sua longevidade?

Por que não foram contactados, por exemplo, os serviços florestais britânicos (Forestry Commission), com anos de experiência a lidar com a doença? Por que não foi contactado um organismo do Estado, como o reputado Laboratório de Patologia Vegetal Veríssimo de Almeida, do Instituto Superior de Agronomia, para proteger património do próprio Estado? (Note-se que estes ulmeiros se situam na cerca do aquartelamento da GNR da Guarda, sendo por isso propriedade do Estado, mais concretamente do Ministério da Defesa Nacional.)

Por último, não posso deixar de realçar que um dos aspetos mais graves desta história, é que esta desastrosa intervenção teve por base uma suposição que não foi provada: a de que as árvores estariam doentes, provavelmente infetadas pelo fungo causador da grafiose. Em primeiro lugar, ainda que tal suposição se revelasse verdadeira, a rolagem dos ulmeiros não seria, de certeza, a solução técnica indicada.
 Mas… e se as árvores estivessem saudáveis?! E se as ditas “podridões” mais não fossem do que feridas perfeitamente normais em árvores centenárias, que em nada interferiam com a vitalidade das mesmas?

São demasiadas perguntas sem resposta e só Deus saberá exatamente o que passou pela cabeça dos responsáveis do ICNF da Guarda para autorizarem que uma pessoa, sem experiência confirmada na manutenção de árvores monumentais e históricas, pudesse intervir sobre um conjunto de espécimes classificados. Deixo por isso, e para concluir, a última pergunta: se o Estado é tão clamorosamente incompetente a proteger o seu património, como pode exigir aos privados que o façam?

(Texto publicado originalmente no blogue da Árvores de Portugal.)

Fonte da imagem: Sol da Guarda.

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Estarão as câmaras acima da lei?

Plátano classificado rolado ilegalmente pela Câmara Municipal de Ponte de Lima

No passado dia 12 deparámo-nos com a informação de que estavam a ser roladas árvores pertencentes à Avenida dos Plátanos de Ponte de Lima, alameda classificada (D.G. nº 148 II Série de 28/06/1940) e uma das mais espectaculares do país.

Depois de contactados o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e a Câmara Municipal de Ponte de Lima(CMPL), a Árvores de Portugal conseguiu apurar que, contrariamente ao que está previsto na Lei (Decreto-Lei n.º 28 468, de 15 de Fevereiro de 1938), os serviços daquele instituto não estavam a acompanhar a acção nem tinham qualquer conhecimento do facto. Contra tudo o que está estipulado naquele Decreto-Lei!

Segundo um responsável da CMPL contactado por nós, houve um estudo prévio das árvores intervencionadas mas, apesar da nossa insistência, não foi possível apurar quem realizou esse estudo, nem consultar os seus resultados.


No passado Verão, durante uma visita a esta vila, tínhamos observado alguns sinais que indiciavam um estado aparentemente fragilizado de uma destas árvores o que parecia indicar a necessidade de uma intervenção especializada para tentar ajudá-la a recuperar e, sobretudo, proteger a segurança de pessoas e bens materiais.

Longe de nós pensarmos que uma câmara municipal poderia realizar uma atrocidade deste tipo, aparentemente cometida pelos próprios “técnicos” camarários, no seguimento do referido estudo. Muito nos custa acreditar que, caso o acompanhamento do ICNF tivesse sido solicitado, as árvores tivessem sido sujeitas a este desfiguramento e mutilação, que põem em causa a sua saúde e longevidade. A própria segurança das pessoas que frequentam este espaço vê-se agora diminuída uma vez que, como é sobejamente conhecido, os ramos das árvores roladas são mecanicamente menos estáveis.

Assim sendo, a Árvores de Portugal apresentou queixa no SEPNA e emitimos agora este comunicado que será enviado também aos serviços da CMPL e do ICNF.

A nossa preocupação é ainda maior uma vez que a nova Lei (Lei n.º 53/2012) que, supostamente, deveria proteger as árvores classificadas (e que revoga o Decreto-Lei n.º 28 468 de 1938) foi aprovada há 17 meses mas, extraordinariamente, não se encontra ainda regulamentada. O Artigo 8º da nova Lei estipula um prazo de 60 dias para esta regulamentação, largamente ultrapassado.

Devido a esta situação, a Árvores de Portugal lançou no passado dia 10 de Fevereiro, em conjunto com outras associações, uma petição pela rápida regulamentação desta Lei, para que as nossas árvores notáveis não fiquem desprotegidas por mais tempo e se possa dar resposta aos muitos pedidos de classificação que têm sido feitos.

(Texto publicado originalmente no blogue da Árvores de Portugal.)

quinta-feira, fevereiro 13, 2014

O rosto da ignorância


Eis o aspeto criminoso de uma rolagem feita num dos plátanos classificados da magnífica alameda de Ponte de Lima. 
Este é o motivo pelo qual é tão urgente assinar e divulgar a petição que defende a regulamentação da lei que protege as árvores classificadas. 
Sem essa lei, este magnífico património fica abandonado às mãos da ignorância do terrorismo arbóreo. 

Assinem, por favor, e ajudem a evitar mais atos criminosos como este: http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT72578

terça-feira, fevereiro 11, 2014

A sua assinatura pode salvar centenas de árvores

Assinar a petição

 No dia 5 de setembro de 2012 foi aprovada, na Assembleia da República, a nova lei de classificação de arvoredos de interesse público.

Passados 17 meses dessa aprovação, o governo ainda não regulamentou essa lei, ou seja, e em poucas palavras, isentou-se do seu papel de cumprir a lei aprovada no parlamento.

Em virtude desta situação, estamos perante um vazio legal que impede a classificação de novas árvores, algo que não acontece desde 2012, e deixa desprotegidas as centenas de árvores classificadas ao abrigo da legislação de 1938, entretanto revogada.

Se nada for feito, este serviço do Estado será esquecido, subvalorizado e, com o tempo, extinto. Se nada for feito, o património natural e cultural constituído pelas centenas de espécimes classificados ficará ao abandono, como abandonadas ficarão as dezenas de árvores que aguardam classificação.

Assim sendo, juntem-se à Árvores de Portugal e demais associações que subscrevem este ideal, assinando e divulgando a petição criada para o efeito: Regulamentação da Lei n.º 53/2012.

sábado, fevereiro 08, 2014

Um caso recorrente de desamor às árvores

A Estradas de Portugal perdeu definitivamente qualquer pudor quanto à forma como trata as árvores à sua guarda, assumindo o "corte preventivo" de árvores saudáveis.

Nas mais altas cúpulas da Estradas de Portugal alguém parece ter descoberto o óbvio: cortar árvores é a forma definitiva de evitar que estas caiam. Por isso, se preventivamente as continuarem a cortar, acabam, literalmente, com o problema pela raiz...