terça-feira, agosto 21, 2007

"População de Cantar Galo contesta corte de árvores"

Estrada Covilhã-Cantar Galo

"População de Cantar Galo contesta corte de árvores". Este era um dos títulos de primeira página da última edição (n.º 3183 de 16 de Agosto) do Jornal do Fundão.

Como no formato on line a notícia está disponível apenas para assinantes do referido jornal, vou tentar resumi-la.

O asfaltamento da estrada que liga a Covilhã à freguesia de Cantar Galo poderá implicar o corte das árvores que ladeiam a referida via. Deste modo, o presidente da junta de freguesia de Cantar Galo, José Carrola, decidiu distribuir um impresso pelos habitantes da freguesia, do qual constavam as seguintes questões:

- Concorda com a manutenção das árvores existentes?
- Concorda com o derrube total das árvores e a substituição por outras de menor porte?
- Concorda com o derrube de algumas árvores que prejudicam o estacionamento e espaços confinantes?

Ainda de acordo com a referida notícia, terão já respondido 233 pessoas das quais 161 defenderam a manutenção das árvores existentes. De referir que o presidente da junta defende a opção de substituir as árvores existentes por outras de menor porte.


Estrada Covilhã-Cantar Galo

Esta notícia é muito interessante e merece da minha parte as seguintes considerações:

- em primeiro lugar, registo com agrado o facto do Jornal do Fundão ter dado destaque de primeira página a uma notícia que envolve a gestão do património arbóreo.

- Felicito o presidente da junta de freguesia
de Cantar Galo, José Carrola, pela iniciativa de perguntar aos eleitores a sua opinião sobre esta questão; se não é uma atitude inédita entre os autarcas portugueses será, no mínimo, extremamente rara...infelizmente!

- De seguida, e ao contrário do que a maioria dos leitores habituais deste blogue poderá pensar, acontece que concordo com a opinião do presidente relativamente à necessidade de proceder à substituição destas árvores por outras de menor porte (só não sei é se será pelos mesmos motivos).

- A verdade é que, ao contrário de outras situações que aqui frequentemente denuncio na própria cidade da Covilhã (ver um desses exemplos aqui), neste caso estamos perante árvores que já foram excessivamente podadas (como se pode constatar pelas fotografias). Desta situação resulta o facto de estas árvores estarem deformadas (com copas mal formadas) reduzindo em muito a área de ensombramento que deveriam propiciar em condições normais.
Estas podas mal executadas, para além dos nefastos efeitos no plano estético, debilitam a saúde das árvores, levando à formação de ramos mais frágeis (que mais facilmente podem ser arrancados em situações de temporal) e diminuindo em muito a longevidade das mesmas.

- Acresce que devido à forma como a freguesia tem crescido ao longo desta via, com passeios minúsculos, casas feitas "em cima da estrada" e fios de electricidade e de telefone por todo o lado, apesar das árvores já terem sido radicalmente podadas, muitas delas estão a interferir com algumas destas estruturas.

- Insistir na poda radical não é solução. Neste caso é preferível optar por árvores de menor porte e, de futuro, no caso de ser necessária alguma intervenção nas mesmas, deverá assegurar-se que a mesma seja feita por empresas especializadas e não pelos habituais "aprendizes de feiticeiro" que tudo resolvem à lei da moto-serra.

- Por último, apesar de estarmos a falar de árvores amputadas por sucessivas podas mal executadas, não é de ânimo leve que se abatem dezenas de plátanos e de choupos. E aqui é preciso sublinhar duas questões:

1º) De uma vez por todas, as autarquias (sejam câmaras municipais ou juntas de freguesia) têm que entregar a gestão do seu património arbóreo a técnicos e empresas especializadas. E sobretudo é preciso prevenir este tipo de situações para depois não ter que as remediar.
Que é como quem diz, é na hora em que se escolhe o tipo de árvore (e o número de exemplares) a plantar que se evitam este tipo de situações. De uma vez por todas não podemos escolher as árvores que vamos plantar ao acaso, mas de acordo com o espaço que estas terão para crescer.

Logo, e queria que isto ficasse bem claro, cortar aquelas dezenas de plátanos e de choupos não será uma boa solução; será apenas a possível dentro das circunstâncias que foram criadas...e que deveriam ter sido prevenidas.

2º) Depois será necessário explicar de forma honesta às pessoas, caso se opte por esta solução, quais foram os motivos técnicos que levaram à decisão de não manter as árvores (que até parece ser a opção maioritária da população local).
É que as pessoas que, de um modo geral, ao longo de toda a sua vida sempre viram as árvores a ser podadas desta forma, acabam por considerá-las como "normais" e, inclusivamente, como "necessárias" e "benéficas". É pois fundamental explicar-lhes que o erro consiste precisamente em não saber planear a plantação das árvores e na forma como depois se tenta corrigir o mesmo com as "podas camarárias".

Seria muito mau para a relação de confiança que deve existir num regime democrático entre eleitos e eleitores que esta situação não fosse bem elucidada, tanto mais que ao decidir fazer um questionário à população, o presidente da junta criou a expectativa de que esta terá um papel na decisão final.
Este caso poderá pois ser exemplar pelos melhores ou pelos piores motivos, dependendo da forma como, daqui em diante, os responsáveis políticos o souberem conduzir.


P.S- Ontem recebi um e-mail do Tiago do Cântaro Zangado, no qual me dava conta de que tinha inquirido a Câmara de Oeiras acerca do abate de 5 choupos. Os serviços camarários responderam ao Tiago, fundamentaram tecnicamente os motivos pelos quais iriam proceder a esse abate e as medidas que iriam tomar para minimizar essa acção.

Este tipo de situações cria um certo optimismo de que por vezes vale a pena protestar junto de quem manda e, sobretudo, que as câmaras se começam a sentir mais vigiadas pelos cidadãos no que concerne à forma como estas gerem os espaços verdes municipais.
Mas a sociedade não pode ser ingénua, a questão que hoje se coloca já não é simplesmente a de que as câmaras têm que plantar mais árvores mas, sobretudo, que têm que saber gerir com profissionalismo o seu património arbóreo.

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