terça-feira, agosto 29, 2006

Alma mater

Vou partir para o Sul...

Até estar convenientemente instalado no Algarve é provável que passe uns dias sem publicar nada no blog. Prometo regressar lá para meados de Setembro com mais sombras verdes do Algarve e das terras vizinhas, alentejanas e andaluzas...

Obrigado aos que têm a paciência de me ler!Um abraço.


O azul do Algarve

P.S.- Já agora, o título "Alma mater", refere-se ao disco do Rodrigo Leão, a banda sonora ideal para atravessar a planície até parar à beira-mar e abrir os olhos para o azul...Até já!

Um ano depois...

Só este mês, passado um ano, arranjei a coragem para voltar a passar no vale do Zêzere...

Ainda lá estão as cicatrizes e muitas ficarão para sempre...

Mas o miocárdio da serra ainda bate, ferido...Mas sobreviveu! Ainda há teixos no vale e a certeza que nem mesmo a mais criminosa e cobarde das acções humanas, consegue subtrair a vida ao vale mais bonito do mundo.


Vale do Zêzere, Agosto de 2006
(visto da estrada de ligação ao Covão da Ponte)


Sobre a Estrela escreveu, um dia, Miguel Torga "Somente a quem a passeia, a quem a namora duma paixão presente e esforçada, abre o coração e os tesouros. Então, numa generosidade milionária, mostra tudo".

Pinheiro-manso bonsai

Pinheiro-manso (Pinus pinea);
Penamacor, Junho de 2005

segunda-feira, agosto 28, 2006

Uma coisa boa e outra que me deixou perplexo...ou nem por isso!

Comecemos pelas coisas boas...Eu não conheço pessoalmente o Sr. António Covita nem nenhuma pessoa, directa ou indirectamente, ligada à Associação de Produtores Florestais do Paul...Serve esta primeira frase apenas para tentar sublinhar a bondade dos meus elogios!Esta associação e o seu trabalho são uma luz ao fundo do túnel e a prova de que, apesar de tudo, os conselhos de quem realmente percebe de florestas, não caem totalmente em saco roto.O que esta associação tem feito é o que se impunha fazer em todo o país:
1º) Fazer o agrupamento, em termos de gestão florestal, daquilo que é o primeiro e um dos principais quebra-cabeças da floresta portuguesa, ou seja, os milhares de minifúndios e respectivos proprietários...No nosso país estes proprietários estão muitas vezes ausentes, sem interesse em se associar mas também, muitas vezes, impedindo que limpem ou intervenham nas suas propriedades (no fundo a típica e enraizada ideia de muitos proprietários agrícolas em Portugal, ou seja, esta terra é minha, posso não fazer nada dela mas também ninguém lhe toca!...) E isto já para não falar de quando estes morrem e os vários herdeiros têm interesses divergentes ou de quando, pura e simplesmente, não se sabe quem é o dono de uma determinada parcela de terreno...
Deste modo, o trabalho de associações como a dos Produtores Florestais do Paul, até pela qualidade do seu trabalho, vem provar que com profissionalismo e dedicação estes são obstáculos que se conseguem ultrapassar...e que a mentalidade tacanha de alguns também se consegue alterar!
2º) Em segundo lugar, esta associação compreendeu que a principal forma de proteger a floresta é quando se procede à plantação das árvores, isto é, através da chamada silvicultura preventiva...não que haja florestas imunes ao fogo, apenas que com o trabalho bem feito, quando este chegar (e ele, mais cedo ou mais tarde, acabará sempre por chegar), a floresta estará melhor preparada para lhe resistir...deste modo, têm feito uma reconversão de grande parte da mancha de pinheiro-bravo do sul do concelho da Covilhã, nomeadamente criando zonas de descontinuidade do pinhal, com recurso a folhosas, em muitos casos autóctones (cerejeiras, sobreiros, etc.).

Esta associação não se limita apenas à gestão florestal, tendo plena consciência que pode e deve intervir na sociedade que a rodeia, nomeadamente na defesa do ambiente, de que a recolha voluntária de lixo no maciço central da Serra da Estrela é apenas um dos exemplos...Mas talvez o exemplo mais notável da sua intervenção nesta região e no país, tenha sido o facto de terem conseguido implementar um projecto Life, através do qual procuraram recuperar e conservar habitats prioritários na Serra da Estrela (na Reserva Biogenética e zona envolvente). Entre estes, destaque para a recuperação de cervunais e de florestas de teixo (ainda que esta última parte tenha sido, lamentavelmente, bastante comprometida com o incêndio do Verão passado no Vale Glaciar do Zêzere).
Alguns dirão, e com toda a razão, que este tipo de iniciativas de conservação da natureza deveriam ser uma responsabilidade do Estado. E está correcto!...Mas tão ou mais correcto, é que a dita sociedade civil, de que a Associação de Produtores Florestais do Paul faz parte, não pode ficar à espera que o estado faça tudo o que lhe compete...existissem mais pessoas e associações que assim pensassem e agissem e o país estaria um pouco melhor! Não se trata de desresponsabilizar o estado das suas obrigações, apenas assumir que em nenhum país do mundo o estado pode fazer tudo e que todos nós temos responsabilidades que devemos assumir!
Por mim, como português e covilhanense que ama esta Serra única, tenha apenas uma palavra...obrigado!

Quanto à notícia que eventualmente me teria deixado perplexo, está relacionada com a detenção no passado dia 22, de um cidadão português na Galiza (Ourense), por se suspeitar ser o presumível autor de 3 incêndios naquela região espanhola...isto de facto, poderia deixar-me perplexo não fosse concordar com o Luís Afonso do Público, pois de facto esta exportação do know-how nacional só peca por tardia!!!! http://www.publico.clix.pt/bartoon/index.asp?dia=23&mes=08&ano=2006&x=10&y=7

Um passeio a Trancoso

A cidade de Trancoso, para lá da riqueza do património arquitectónico, apresenta também , por si só, um património arbóreo que merece uma visita...Destaque para o conjunto arbóreo do Parque Municipal, classificado desde 1994 como sendo de interesse público, nele sobressaindo notáveis exemplares de sequóias e vários teixos.
No centro histórico, perto do antigo Paço Ducal, realce para uma tília (Tilia tomentosa Moench) de porte notável, também ela classificada de interesse público desde 1994.


Tília (Tilia tomentosa Moench)

Por último, embora o famoso freixo (Fraxinus angustifolia Vahl) de Trancoso, não tenha resistido ao ciclone de 1941, existem ainda na cidade alguns belos exemplares desta espécie, nomeadamente nas imediações do Recinto das Feiras, junto às Portas d'El Rei.


Freixo (Fraxinus angustifolia Vahl)


Freixo (Fraxinus angustifolia Vahl)

domingo, agosto 27, 2006

À sombra dos freixos



Esta alameda de freixos (Fraxinus angustifolia Vahl) situa-se na estrada 246-1, entre Castelo de Vide e Marvão (distrito de Portalegre). Tanto quanto consegui apurar, este conjunto arbóreo está classificado de acordo com o Regulamento do Plano Director Municipal de Marvão, tal como consta da Resolução do Conselho de Ministros n.° 70/94. Estão ainda classificadas como árvores de interesse público desde 24/02/1997.

Esta alameda de freixos é um dos legados que ainda subsiste nos dias de hoje, de um passado onde quem fazia estradas também tinha preocupações de enquadramento estético. Como se viu, a posteriori, essas pessoas estavam de facto demasiado avançadas para o país que ainda somos.

Mas enfim, Planos e Resoluções à parte, aqui fica a sugestão para um passeio que recomendo vivamente nestas tardes preguiçosas de fim de Verão.

sábado, agosto 26, 2006

O Jardim do Lago

O Jardim do Lago constitui uma das mais conseguidas obras do programa Polis na Covilhã.

Este jardim juntamente com o espaço verde criado junto à rotunda da Ponte do Rato, Jardim da Ponte Mártir-in-colo e o Parque da Goldra (ainda em construção), constituem um corredor verde, quase em contínuo, ao longo do vale da Ribeira da Goldra.


Jardim da Ponte Mártir-in-colo (a árvore de maior porte que se vê na imagem, um plátano, foi entretanto vítima de poda camarária)


Ponte do Rato

O maior mérito do Jardim do Lago resulta, em minha opinião, do facto do(s) arquitecto(s) paisagista(s) responsável pelo projecto, ter aproveitado as ondulações e acentuados desníveis do local, o que lhe confere um ar menos artificial.

Julgo que também é de louvar o facto de ter sido recolocada à superficie a ribeira da Goldra, que nessa zona corria entubada há já muitos anos. Sublinho ainda o facto de se terem aproveitado muitas das árvores que o local já possuía, como castanheiros, macieiras, salgueiros e oliveiras.

O problema é que estas, ou seja, as árvores que já lá existiam, são das poucas que não secaram. Não sei se o problema foi uma incorrecta escolha de espécies, de terem sido plantadas numa época do ano desadequada ou se o sistema de rega do espaço não é o mais adequado.

Já que falamos de rega de espaços verdes, abro aqui um pequeno parênteses: a Câmara Municipal da Covilhã já foi elogiada por ser das poucas do país que utiliza água não tratada, isto é, não destinada ao consumo humano, para regar os jardins; mas já agora, custava muito proceder a essa rega fora das horas centrais do dia?


Jardim do Lago

Regressando ao Jardim do Lago, e ao principal motivo que me levou a escrever este texto, seria pedir muito que se resolvesse esta questão, da substituição das árvores, no próximo Outono?

E não querendo ser maçador, mas já que temos um viveiro de árvores autóctones a 45 km na Serra da Malcata, seria pedir muito que plantassem pelo menos uma meia dúzia de carvalhos cá da serra?
Não tenho nada contra os da terra do tio Sam, até ficam com uma coloração bem bonita no Outono, mas era só para começarmos a valorizar e a preservar o que de bonito temos por cá.

sexta-feira, agosto 25, 2006

Tibães e a sua cerca

Mosteiro de Tibães

O Mosteiro de Tibães (situado em Mire de Tibães no concelho de Braga), fundado na 2.ª metade do século XI, possui uma história algo atribulada até ter passado para património do estado em 1986. Para além dos motivos de interesse inerentes ao mosteiro e à igreja (templo de dimensões consideráveis e exemplo notável do período barroco), aconselho uma visita aos respectivos jardins e cerca. Estes espaços verdes perfazem, na totalidade, cerca de 40 hectares, sendo um autêntico oásis de biodiversidade com várias espécies autóctones, numa zona dominada pela monotonia do eucaliptal.
Nos jardins, destaco os buxos (Buxus sempervirens) e as aveleiras (Corylus avellana), de porte arbóreo, que aí podemos encontrar. De referir, a propósito do buxo, que apesar de ser comum na forma de sebe nos jardins do nosso país, no seu habitat natural é uma espécie ameaçada, devido à sua distribuição geográfica limitada. Deste modo, em Portugal, está referenciado apenas nos vales dos rios Sabor, Tua e Douro, sendo que o maior núcleo se situa precisamente no troço do rio Sabor ameaçado pela construção de uma barragem.
Na cerca, por outro lado, podemos encontrar vários exemplares de carvalho-alvarinho (Quercus robur), com alguns exemplares de porte assinalável, e um sub-bosque onde sobressai o azevinho (Ilex aquifolium).

Carvalho-alvarinho (Quercus robur)

Quanto às espécies alóctones presentes, destaque para dois magníficos cedros-do-himalaia (Cedrus deodara), presentes perto de um pequeno lago. À beira destes cedros, podemos encontrar uma tília (Tilia sp.), que não pude identificar até à espécie, sendo que apesar de não ter uma copa muito ampla em termos de perímetro, já em altura consegue rivalizar com os vizinhos cedros. À sombra destes gigantes, uma palmeira da espécie Trachycarpus fortunei, (espécie originária da China), tentar arranjar espaço para crescer. É de referir que estas palmeiras estão entre as mais resistentes ao frio, existindo exemplares por cá, mesmo em cidades com um clima de Inverno bem agreste, como é o caso da Guarda e de Bragança.
Cedros-do-himalaia e tília


Por último, como testemunhas da presença do Mediterrâneo mesmo no coração atlântico do Minho, podemos observar alguns sobreiros (Quercus suber). Alguns dos sobreiros existentes no parque do estacionamento do mosteiro, foram já este ano atingidos por um incêndio nas redondezas, mas dada a resistência desta espécie ao fogo, parecem ser capazes de vir ainda a recuperar a cor verde.



Sobreiro (Quercus suber)

Agradecimentos e azinheiras !

Queria, antes de mais, agradecer as palavras de elogio e de incentivo, bem como a "publicidade" no respectivo blog, por parte da equipa que nos ajuda a ter mais Dias com árvores (http://dias-com-arvores.blogspot.com/) Um sincero obrigado e continuação de bom trabalho para vocês!
P.s. - E, já agora, uma vez que estou de regresso ao Algarve para dar aulas, pretendo fazer-me à estrada assim que puder, para poder fotografar a azinheira monumental do concelho de Mértola, que foi uma das descobertas mais interessantes que fiz precisamente a partir dos Dias com árvores; esta descoberta, por sua vez, partiu de uma fotografia assinada por Pyconotus (ver o link http://www.flickr.com/photos/21852418@N00/70541775/)
Até breve!

quinta-feira, agosto 24, 2006

Carvalho-alvarinho de Calvos



Carvalho-alvarinho (Quercus robur) - Calvos (Póvoa de Lanhoso), Julho de 2006

Este magnífico exemplar de carvalho-alvarinho (Quercus robur), conhecido localmente como o carvalho de Calvos, fica situado perto desta localidade do concelho de Póvoa de Lanhoso, no distrito de Braga.

Trata-se de um exemplar com cerca de 500 anos ao qual, devido a uma doença, teve que ser amputado por técnicos devidamente qualificados, um dos ramos principais (situação não visível na fotografia por se situar no lado oposto da árvore). No entanto, tal como consta da nota explicativa colocada no local, este facto permitiu não apenas salvar a árvore mas também fazê-la recobrar o seu vigor.

Dentro do respectivo cercado de protecção, este carvalho convive com um primo direito, ou seja, uma outra árvore do género Quercus, o sobreiro (Quercus suber) [à esquerda na primeira imagem].

Bem perto deste carvalho, no exterior do cercado de protecção, existe um outro exemplar bem mais jovem, mas que demonstra já um porte assinalável e um grande vigor vegetativo, podendo por este motivo, vir a ser no futuro outro exemplar notável desta espécie

quarta-feira, agosto 23, 2006

Feios, porcos e maus

Ando desde Sábado para escrever este texto, ou seja, desde que ouvi a notícia no rádio, vinha eu de Braga. Pensei até deixar passar o assunto em branco. Mas enfim, não consigo, é mais forte do que eu, por isso, cá vai...

Eu sei que o meu relacionamento com a generalidade dos meus compatriotas já conheceu melhores dias (eu diria mesmo que uma das partes deveria partir para o divórcio litigioso!). Tenho igualmente consciência que tudo o que diz respeito a atentados à Serra da Estrela me tira do sério, mas vou tentar ir com calma.

Vem tudo isto a propósito da acção de limpeza levado a cabo na zona da Torre, no passado Sábado (dia 19), por voluntários, através de uma iniciativa do Centro de Interpretação da Serra da Estrela (CISE), estrutura ligada à Câmara Municipal de Seia.

Esta iniciativa pretendia efectuar a limpeza na zona do Covão do Boi, mas tal não foi possível. E perguntarão porquê? Pois bem, porque o lixo na zona envolvente à Torre era tanto, que estes voluntários acabaram por não ter tempo para sequer se aproximar do Covão do Boi. No total foram recolhidos 1200 kg de resíduos, isto é, mais de uma tonelada de lixo. Recorde-se que em Maio passado, por iniciativa da Associação de Produtores Florestais do Paul (Covilhã), já haviam sido recolhidos 600 (!!!) sacos de lixo, em zonas envolventes à Torre!

Se eu fosse um brincalhão, diria que estas coisas não se fazem, estarem a contribuir para a extinção daquela que deveria ser uma das principais bandeiras turísticas da Serra da Estrela: a lixeira mais alta de Portugal Continental!

Como não sou um brincalhão, cá vai: sobre a "Turistrela", única empresa concessionária do turismo do maciço central (incluindo aquilo a que chamam a Estância Vodafone) e sobre as suas "responsabilidades", nem sequer falo. Admitir que essa empresa tem responsabilidades era o mesmo que admitir que tem direitos, ou seja, que têm direito a existir. Coisa que não tem! Remeto os caros leitores para o saudoso programa "Planeta Azul" da RTP e para um programa específico sobre a Serra da Estrela; está lá tudo e não é preciso acrescentar uma vírgula.

Quanto ao Parque Natural, não sei se chore ou se ria, porque a verdade é que estas estruturas estão reduzidas a criar a ilusão (talvez a Bruxelas?!) que em Portugal se conserva a natureza. Na realidade, ainda que quisessem, e eu até acho que querem, não têm meios (legais e financeiros) para obrigar quem quer que seja a limpar o que suja. Para as direcções das Áreas Protegidas deste país, já é um luxo chegar ao fim do mês com dinheiro para pagar a água e a luz! E quanto cometem a ousadia de levantar alguma objecção, aqui d'el rei, levantam-se os autarcas e as chamadas forças vivas da região (adoro esta expressão!), que lá está o Parque a "boicotar o desenvolvimento", no que o nosso povo, que gosta é de foguetórios, cimento, alcatrão e centros comerciais, vai logo atrás.

Quanto às Câmaras da região que gostam de se entreter em guerras inúteis sobre quem manda mais na serra, quando chega a hora de limpar, olham para o lado, mãos nos bolsos, que isso não é nada connosco. Preste-se por isso aqui homenagem à Câmara de Seia que, através do CISE, se chegou à frente e prestou um serviço a todos.

Mas não passemos ao lado dos principais responsáveis. É que para lá de possíveis responsabilidades de instituições públicas ou privadas, existe a responsabilidade individual de cada cidadão. É muito típico dos portugueses sujar porque depois, com certeza, atrás de nós virá sempre alguém que limpa ou desculpar-se porque não viram caixotes do lixo. Os portugueses são crianças em ponto grande, sempre a desculpar-se com os outros e sempre demasiado cobardes para assumir as suas responsabilidades cívicas. Por isso, deixemo-nos de meias palavras, pois para todos aqueles que aqui vêm, supostamente em turismo, e aqui abandonam o lixo, o dicionário de Língua Portuguesa contém vários adjectivos, que eu não reproduzo apenas porque quero que este blogue tenha um mínimo de decência na linguagem. Não há desculpas para as fraldas, embalagens de preservativos, restos de obras, latas de atum, banheiras de plástico (!!!) abandonadas. Não há meio-termo na educação: ou se tem ou não se tem!

É esta falta de amor ao próprio país que os portugueses constantemente demonstram (sempre tão pretensamente patriotas com as bandeirinhas made in china à janela), que me magoa profundamente. Subir ao ponto mais alto do nosso território continental e ver com os próprios olhos o à vontade com que convivemos com o lixo que abandonamos, dá-nos o perfeito retrato do povo que somos em pleno século XXI.

Por mais roupas de marca que usemos, telemóveis de última geração, carrinho topo de gama alemão, não conseguimos disfarçar a nossa verdadeira essência. Ainda que supostamente tenhamos instrução, até mesmo um canudo, quando ninguém espreita, quando ninguém olha, aí verdadeiramente mostramos a nossa falta de educação cívica: de dia ainda pomos a garrafa no vidrão mas à noite, quando os vizinhos dormem, lá vamos abandonar o colchão velho à serra. E se for preciso ainda telefonamos muito ofendidos para os fóruns da televisão e da rádio a criticar este país, onde ninguém limpa as matas!

É isto que verdadeiramente nos distingue da Europa, não é por termos menos dinheiro, mas é por este secular atraso civilizacional. Se fôssemos mais ricos faríamos exactamente o mesmo, só que haveria menos gente a atirar lixo pela janela do Fiat e ainda mais gente a fazê-lo da janela de um Audi.

Termino como comecei: no Sábado vinha de Braga e, já na Covilhã, ao parar num semáforo vermelho, o indivíduo que estava à minha frente, abre a porta da sua bruta carrinha e faz o favor de despejar o lixo do cinzeiro para o meio da rua. Adoro o meu país, que Deus nos mantenha assim por muitos anos!...

terça-feira, agosto 22, 2006

O General Sherman e a sua descendência lusa


















Sequóia-gigante [Sequoiadendron giganteum (Lindl.) Buchh.] , denominada "General Sherman" - Sequoia National Park, E.U.A. , Agosto de 2006


Espero que não esteja a tornar este blogue demasiado familiar, ao partilhar esta fotografia tirada pelo irmão da minha namorada, há escassos dias, na californiana Serra Nevada, mais concretamente no Sequoia National Park.

Esta árvore é a maior do mundo em termos de volume, com um valor de 1487 metros cúbicos. Tem uma altura aproximada de 84 metros (m) e o tronco tem, na base, um diâmetro máximo de 11 m. Para se ficar com uma ideia de quantas pessoas seriam necessárias para a abraçar, basta afirmar que mede de perímetro à altura do peito, qualquer coisa como 24 m.

Calcula-se que supera os 2000 anos de idade...Pois é, não sei se troque de carro ou se invista esse dinheiro só para ver de perto e sentir o cheiro deste milagre da natureza.


Em Portugal, existem alguns "bebés" desta espécie, com pouco mais de 100 anos, estando alguns dos melhores exemplares no Parque do ex-Sanatório Sousa Martins, na vizinha cidade da Guarda, possuindo cerca de 40 m de altura e um perímetro à altura do peito de aproximadamente 5 m.

Poderão dizer alguns que são valores muito modestos quando comparados aos do General Sherman, mas se tivermos em conta que estas árvores estão fora do seu habitat original e que, para a longevidade da espécie, são ainda bastante novas, não deixam de ser valores admiráveis.
Pessoalmente, num trabalho de identificação em que participei, na Quinta da Cruz (Viseu - freguesia de S. Salvador), tive a feliz oportunidade de participar na descoberta de um exemplar desta espécie com 34,2 m de altura e 4,6 m de perímetro à altura do peito. (Nota: infelizmente, este exemplar de Viseu, possivelmente em virtude de um temporal, perdeu a flecha original).

Azinheiras na Irlanda

Azinheira classificada em S. Brás de Alportel

A azinheira (Quercus rotundifolia Lam.) é uma espécie com ampla distribuição pela bacia do Mar Mediterrâneo, desde a zona do Cáucaso até à Península Ibérica. No nosso país,pese embora se concentre sobretudo no interior sul, cresce desde o barrocal algarvio até à Serra de Montesinho. A azinheira, tal como o sobreiro (Quercus suber L.), são espécies características de zonas sujeitas à influência do macroclima mediterrânico. No entanto, as azinheiras são mais resistentes à secura e ao frio do que os sobreiros, motivo pelo qual esta espécie não se restringe apenas ao sul do país, aparecendo em zonas do interior centro-norte, com clima de Inverno mais agreste mas com reduzidos índices de pluviosidade anual e uma acentuada secura estival (por exemplo, na zona de Almeida, na chamada Beira Transmontana).



Na Serra da Estrela, graças à sua resistência a condições climatéricas adversas, sobrevive mesmo em altitudes relativamente elevadas, ainda que limitada a um porte arbustivo. De resto, e de acordo com o "Guia Geobotânico da Serra da Estrela", de Jan Jansen, para além de indivíduos isolados, subsistem apenas resquícios de antigos bosques de azinheira em vales mais isolados (Cortes, Beijames, Sameiro e no do Mondego entre a Senhora da Assedasse e a Quinta da Taberna).


A azinheira tem ainda um elevado potencial como árvore ornamental, o qual é totalmente desprezado no nosso país, onde continua a imperar a ideia de que o que vem lá de fora é que é bom. Esta ideia aplica-se a quase tudo, incluindo as árvores que se plantam nas cidades.
Não se trata de nenhum fundamentalismo mas, de vez em quando, para além de se plantarem árvores exóticas (plátanos, tílias, araucárias, cedros, etc.), faria algum mal plantarem-se árvores autóctones? Será parolice plantar, uma vez por outra, uma azinheira ou um teixo?


Azinheiras em Phoenix Park (Dublin) - Agosto 2005


Quem já se rendeu à beleza das azinheiras* foram os irlandeses que as plantam com alguma regularidade em parques e jardins. De passagem por lá, pude ver vários exemplares, em Dublin e em Kilkenny.
Outra coisa que me intrigou na Irlanda, foi o facto dos irlandeses não pareceram importar-se com o facto de as árvores crescerem, darem sombra ou taparem a vista da casa do vizinho, tudo coisas que, como se sabe, incomodam profundamente os portugueses...que povo estranho estes irlandeses!...


* Estas azinheiras irlandesas, com quase toda a certeza, pertencem à espécie Quercus ilex, diferente da nossa (Quercus rotundifolia). No entanto, para alguns autores, estas azinheiras são subespécies e não espécies distintas.

segunda-feira, agosto 21, 2006

Motivos de orgulho



Porque há dias assim, em que uma pessoa acorda um pouco mais bem disposta e também dá valor ao que está bem, deixo aqui esta imagem de um azevinho, já com um porte assinalável, existente num pequeno jardim da Covilhã.
O azevinho (Ilex aquifolium) é uma árvore (comum também na forma arbustiva) que pode atingir os 20 m de altura, surgindo em bosques de carvalhos e de faias. Tem a particularidade de ser uma espécie dióica, ou seja, existem exemplares com flores masculinas e outros com flores femininas (sendo estes os que originam os frutos globosos, que atingem com a maturação a típica cor vermelha escarlate).
No nosso país, uma vez que não existem bosques autóctones de faia (Fagus sylvatica), o azevinho está associado ao sub-bosque de bosques dominados por carvalho-alvarinho (Quercus robur). A destruição em larga escala no noroeste do nosso país destes carvalhais, com a sua substituição primeiro por pinheiros-bravos e depois por eucaliptos, levou a uma considerável regressão na população de azevinhos, acrescida do abate de muitos exemplares (sobretudo os femininos devido aos frutos) para efeitos ornamentais, nomeadamente na quadra natalícia.
Apesar de o azevinho ser uma espécie protegida por lei e da sua colheita ser proibida, sendo apenas permitida a venda de exemplares provenientes de viveiros autorizados, a sua sobrevivência continua ameaçada por diversos factores, tendo já este ano ano ardido um dos maiores núcleos desta espécie, com vários exemplares de porte arbóreo, na Mata do Ramiscal (Parque Nacional da Peneda-Gerês).
Na Serra da Estrela, de acordo com "Guia Geobotânico da Serra da Estrela", de Jan Jansen, existem, na actualidade, apenas exemplares isolados de azevinho, nomeadamente no Vale da Caniça, Garganta e Vale de Loriga, Vale de Alvoco, Ribeira da Lagoa, Vale da Candieira e Souto do Concelho (nas proximidades de Manteigas). Ainda de acordo com esta obra, estes indivíduos poderão ser considerados como relíquias de antigos bosques que, provavelmente, teriam como um dos elementos do sub-bosque, o azevinho.

domingo, agosto 20, 2006

Nem todos os plátanos se abatem



















A Avenida dos Plátanos, situada em Ponte de Lima, é constituída por mais de 80 exemplares que formam uma impressionante alameda à beira rio (margem esquerda do Lima).

No livro de Ernesto Goes, "Árvores Monumentais de Portugal", são referidas um total de 87 árvores, enquanto que na página da Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF)* são mencionados 83 exemplares. A causa mais provável desta disparidade, tendo em conta que a obra de Ernesto Goes data de 1984, terá sido a provável morte e consequente abate de 4 exemplares.


*Adenda de agosto de 2013:  página do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).


Estas árvores pertencem à espécie Platanus x hispanica Miller ex Münchh., a mais plantada em Portugal. Esta espécie é um híbrido resultante do cruzamento entre o plátano-americano (Platanus occidentalis L.) e o plátano-europeu (Platanus orientalis L.).
No entanto, em publicações mais recentes, considera-se que este plátano é uma variedade do plátano-europeu, designada por Platanus orientalis L. var. acerifolia Aiton.



Os plátanos desta magnífica alameda terão sido plantados em 1901, de acordo com o blogue Dias com Árvores, estando classificados como sendo de interesse público desde 1940.


Todos os presidentes de câmara deste país deveriam ser obrigados a visitar esta avenida e, talvez deste modo, alguns percebessem a suprema estupidez daquilo que se passa todos os anos nas cidades e vilas portuguesas, com a mutilação de vários plátanos. (Alguns responsáveis autárquicos, mais dados ao humor negro, costumam referir-se a estes actos de barbárie como podas; alguns ainda, mais ousados, até pensarão que estão a fazer podas de correcção! A estes vale, que a dita estupidez, ainda é das poucas coisas não sujeitas a IVA neste país).

Por cá, entenda-se na Covilhã, todos os anos assistimos a este espectáculo. Este ano, por exemplo, decidiram embirrar com os plátanos que ladeiam a estrada que liga esta cidade ao Tortosendo, como no passado fizeram o mesmo aos que se encontravam no Canhoso; mutilados foram também dois plátanos situados junto ao novo jardim da Ponte Mártir-in-colo, que embora sendo ainda jovens, se mostravam bastante vigorosos e com uma copa bastante harmoniosa.

Neste caso, como em tantos outros, tudo resulta da falta de planeamento, ou seja, plantam-se árvores próximas umas das outras e depois tenta-se resolver o "problema", cortando, quase literalmente, o mal pela raiz.

Na cidade, por mutilar, resta praticamente o conjunto magnífico formado por 3 plátanos à beira da estação de caminhos-de-ferro. Até quando?

Moure e o seu eucalipto

Foi bem perto deste eucalipto que dei aulas neste ano lectivo, na Escola Básica Professor Amaro Arantes, na freguesia de Moure (concelho de Vila Verde).














Eucalipto de Moure
(estrada nacional 201 entre Braga e Ponte de Lima)


Quanto ao eucalipto, da espécie Eucalyptus globulus (a mais abundante das que foram introduzidas em Portugal), era um dos mais notáveis exemplares existentes no nosso país, tendo infelizmente secado nestes últimos anos.

No livro "Árvores Monumentais de Portugal" de Ernesto Goes (edição de 1984), existe uma menção a esta árvore (incluindo uma fotografia da mesma), embora ela seja erradamente situada no lugar de Mouro. Esta árvore tinha, na altura da edição do referido livro, uma altura de 44 metros e o perímetro do tronco à altura do peito media 9,75 metros. Ernesto Goes calculava a idade desta árvore nos 120 anos.

O facto de lamentar que grande parte do país tenha sido erradamente "eucaliptizado", não significa que não saiba apreciar a monumentalidade de alguns eucaliptos, enquanto árvores ornamentais. Aliás, no ano passado, arderam na Mata Nacional de Vale de Canas, em Coimbra, exemplares notáveis de eucaliptos de várias espécies, desconhecendo se o mesmo aconteceu a um Eucalyptus diversicolor com mais de 70 metros, que se presumia ser a árvore mais alta do país e da Europa.

domingo, agosto 13, 2006

À beira do Coura muito mais do que música

Uma visita a Paredes de Coura (e ao seu festival de música) não ficaria completa sem uma visita à Área Protegida do Corno de Bico, situada no limite sudeste deste concelho minhoto (infelizmente já afectada pelos incêndios deste ano...eh pá, esqueci-me que ainda é Domingo e tinha decidido não falar de incêndios!). Ainda assim, tenhamos esperança que a área destruída não tenha sido significativa...
Esta zona é constituída basicamente por um carvalhal de carvalho-alvarinho (Quercus robur), o que denuncia as influências do macroclima atlântico na região. No sub-bosque, ainda se encontram com alguma facilidade exemplares de azevinho (Ilex aquifolium). Na fauna, estão referenciadas na zona, entre outras espécies, três bastante ameaçadas em Portugal: o lobo (Canis lupus), a lontra (Lutra lutra) e a águia-real (Aquila chrysaetos).



De regresso à vila, talvez tenham a sorte de tropeçar noutro exemplar da nossa flora autóctone (das zonas onde a influência atlântica prevalece), o plátano-bastardo (Acer pseudoplatanus), espécie também conhecida pelo nome de padreiro. Este é um dos melhores exemplares que conheço desta espécie, sendo tanto mais notável por ainda não ter sofrido nenhuma poda desfiguradora. Esta espécie, de entre as autóctones do nosso país, é das mais plantadas nas cidades do Norte e Centro, mas devido às infelizes "podas camarárias", raramente se consegue ver um exemplar com este porte e elegância.

Porque hoje é Domingo...não vou falar de incêndios!

A propósito do lince-ibérico (Lynx pardinus) que, recordemos, é o felino mais ameçado de extinção em todo o mundo, parece começar a ganhar contornos mais definidos a possível reintrodução desta espécie na Reserva Natural da Serra da Malcata.
Segundo vários jornais nacionais, o "Grupo de Reintrodução do Lince-Ibérico" já terá aprovado (em definitivo ?) a criação de um centro de reprodução na Malcata, semelhante ao centro "El Acebuche" do Parque Nacional de Doñana, na Andaluzia (Espanha). Embora algumas projecções (optimistas?) apontem para 2007/08 como data provável de arranque deste projecto em território nacional, a verdade é que tal depende do sucesso do centro de reprodução em cativeiro instalado no país vizinho.
Do lado nacional, por sua vez, é necessário que se reúnam uma série de requisitos, não apenas do próprio centro de reprodução, mas também da recuperação das populações de coelho-bravo (Oryctolagus cuniculus) na Serra da Malcata, factor imprescindível ao sucesso de uma futura reintrodução do lince neste espaço natural.

Sem euforias, porque a situação da espécie continua a ser dramática, nem optimismos exagerados, celebremos a possibilidade de voltarmos a ver este felino na Malcata, o que até há bem pouco tempo parecia impossível.

E já agora, (caso contrário seria trucidado pelo meu amigo Miguel Rodrigues), aqui fica a sugestão...tornem-se úteis nesta causa, participem em http://www.soslynx.org/



Primeiras crias de lince-ibérico nascidas em cativeiro

sábado, agosto 12, 2006

O bom arquitecto e o "porquê" da Galiza

Tive ontem a feliz oportunidade de ver uma entrevista com o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles à SIC Notícias sobre o drama dos incêndios florestais...os "porquês", as "causas", as "soluções", está lá tudo!...Aquela entrevista deveria ser de visualização obrigatória para todos, não apenas para os políticos ou os que têm algum poder de decisão/intervenção sobre a floresta, mas por TODOS os portugueses...

O arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles conserva a notável capacidade de explicar matérias complexas de uma forma tão simples que ainda que tivéssemos apenas 4 anos as conseguiríamos compreender...e as "causas", sendo complexas, são de fácil compreensão: as políticas que levaram e continuam a levar as pessoas a abandonar as aldeias e a respectiva agricultura no interior, o total caos urbanístico no litoral (com milhares de habitações e todo o tipo de construções espalhados por entre matos e matas!) e a irresponsável florestação com espécies altamente inflamáveis como o pinheiro-bravo e o eucalipto (o que num país de clima mediterrânico constitui um verdadeiro suicídio ecológico, fazendo tanto sentido como os bombeiros serem regados com gasolina previamente a irem combater um fogo!!)

Se quisermos resumir, tudo se explica com a continuada ausência de uma política de ordenamento do território em Portugal...Aliás, Ribeiro Telles insurge-se contra a "sangria" das últimas aldeias habitadas a favor das ditas cidades médias (essenciais para suster os grandes centros urbanos mas não à custa das aldeias!) e lembra que se estas questões não constarem do futuro Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (em discussão pública em http://www.territorioportugal.pt/) este documento de nada servirá!


Quanto aos que promoveram a errada florestação do país com o pinheiro-bravo (ler a propósito o romance "Quando os Lobos Uivam" de Aquilino Ribeiro) já pouco haverá a fazer, pois com certeza que a maioria já não está entre nós, mas gostava de insistir para que pessoas como os engenheiros Mira Amaral, Álvaro Barreto e todos os que promoveram a "eucaliptização" do país se chegassem à frente e prestassem contas não a uma comissão parlamentar mas ao país...isto é, nos tribunais, se fosse caso disso! Está bem, agora estou a delirar e a fingir que estamos num estado de direito!

E porquê a Galiza? Porquê uma região que apostou tudo na prevenção, vigilância e na rápida e eficaz primeira intervenção, está a viver este drama? O que aconteceu a uma região que conseguiu na década de 90 baixar a área ardida para uma média de apenas 24 mil hectares por ano? O que aconteceu ao "perfeito" Serviço de Defesa contra Incêndios Florestais (SDCIF), organismo público com poderes sobre a floresta pública e privada e um comando único na prevenção e combate? Não é este sistema que queremos "importar", assente em sapadores florestais, equipas heli-transportadas de 1ª intervenção?? Não, não é este sistema que está errado...o que está profundamente errado é assumir que isto é suficiente quando o não é, pois quando a Galiza, tal como nós, apostou erroneamente numa florestação à base de pinheiro-bravo e eucalipto, se a 1ª intervenção falha nada pára o fogo...e quando, como neste Verão, as ignições são na casa das centenas isto acontece com a maior das facilidades e todo o sistema de prevenção/combate cai como um castelo de cartas!

A lição a tirar da Galiza é que por melhor que funcione o sistema de prevenção/detecção, se não se alterar a política de ordenamento do território (incluindo a política florestal) as tragédias irão ciclicamente repetir-se...poderemos ter a ilusão, como os galegos, de que tudo corre bem durante alguns anos para depois acordarmos rodeados de chamas!



Incêndio nos arredores de Santiago de Compostela
(foto disponível em http://www.antena3.com)

sexta-feira, agosto 11, 2006

Ainda o terrorismo florestal...


Imagem do noroeste de Península Ibérica obtida por satélite da ESA (European Space Agency), 2006/08/06



















Imagem do noroeste de Península Ibérica obtida por satélite da ESA (European Space Agency), 2006/08/09

Definição de país do 4º mundo

De acordo com uma notícia hoje publicada no "Diário de Notícias", o Parque Nacional da Peneda-Gerês arde há 8 dias...sim, oito dias!!! Entre outros sítios importantes para a conservação da biodiversidade do Parque, já ardeu a mata do Ramiscal que albergava um dos maiores núcleos de floresta autóctone, incluindo um dos mais significativos núcleos de azevinho (Ilex aquifolium) do país. Esta mata e zonas adjacentes, constituíam também o habitat da última águia-real (Aquila chrysaetos) do Parque, o que é um rude golpe na conservação desta espécie, sobretudo numa altura em que se pondera a reintrodução de mais exemplares desta espécie com vista à consolidação de um núcleo estável dentro dos limites da Peneda-Gerês.
Note-se que o azevinho é uma das espécies da flora lenhosa mais ameaçadas no nosso país; e que no ano transacto, no devastador incêndio que devorou o troço superior do vale glaciar do Zêzere, no Parque Natural da Serra da Estrela, já tinha ardido o mais significativo núcleo nacional de teixo (Taxus baccata) outra espécie lenhosa ameaçada de extinção em Portugal.

Que o país nada em dinheiro já nós sabíamos, desde que em 2004 se construíram estádios de futebol que levam 30 000 pessoas e os ofereceram a clubes como o U. Leiria que chega a ter assistências de 500 pessoas!!! O que nós não sabíamos é que temos de facto um país milionário, rico em recursos e sem quaisquer problemas de contas públicas, e que obviamente prefere gastar milhões em aluguer de aviões do que milhares pondo pessoas a vigiar, já não digo todas, mas pelo menos as zonas mais importantes do único Parque Nacional que temos...Mas enfim, com o aproximar do início do campeonato o povão quer é bola, quer é saber quando é que o Benfica vai começar a ganhar e quem vai treinar o Porto, não é?! Afinal de contas a águia-real é só um pássaro e pássaros há muitos, os teixos até são venenosos e azevinhos são preferíveis os de plástico, made in china, para enfeitar a sala no Natal!!!...

Já agora, senhores incendiários, por quantos mais verões nos vai ser dado o humilde e não merecido prazer de podermos desfrutar das sombras da mata de Albergaria?

Mata de Albergaria, Parque Nacional da Peneda-Gerês (Março de 2006)

quinta-feira, agosto 10, 2006

Terrorismo florestal visto do espaço


Imagem de Portugal e Galiza obtida por satélite da NASA a 9 de Agosto de 2006. Tirem as vossas próprias conclusões!!...

quarta-feira, agosto 09, 2006

Os blogs e a Estrela

Isto da dita "blogosfera" ainda se mete comigo...

Isto de criarmos uma espécie de diário (não é suposto ninguém ler o nosso diário?) no "ciberespaço" convencidos que alguém estará interessado em lê-lo, enfim!...Não será isto o cúmulo de um certo narcisismo? Bom, estou ainda demasiado ensonado para mais divagações deste género.

Mas o essencial não se altera, sou ainda um aprendiz nestas andanças e os meus conhecimentos limitam-se a uma meia dúzia de blogs. Mas adiante...

Vou-vos então deixar uns conselhos de leitura:

- Para quem se interessa sobre árvores e botânica (em sentido lato), um dos blogs mais interessantes parece-me ser o http://dias-com-arvores.blogspot.com/
Numa perspectiva de denúncia contra os crimes perpretados contra o património verde das nossas cidades temos o http://dias-sem-arvores.blogspot.com/

- Sobre a Serra da Estrela e outras informações sobre temáticas relacionadas com montanha e defesa do ambiente, aconselho um salto a:

http://covilha.blogspot.com/
http://www.ocantarozangado.blogspot.com/
http://refugiodamontanha.blogs.sapo.pt/

Todos estes blogs parecem ter a característica de não procurar insultar nem ofender ninguém (um pouco à imagem da claque de futebol dos Gato Fedorento), isto claro, sabendo no entanto de antemão, que muita gente se ofende com certas denúncias e, sobretudo, com opiniões diferentes das suas.

E para dar um certo colorido a este texto, publico uma fotografia da nossa Serra da Estrela fotografada a partir da igreja de Nossa Senhora da Penha em Castelo de Vide, ou seja, em pleno Alto Alentejo (às portas do Parque Natural da Serra de S. Mamede).















Nota: Ao centro observa-se o casario de Castelo Branco e por detrás a Serra da Gardunha, sendo a Estrela a elevação mais alta ( ao fundo) - Abril de 2006.

terça-feira, agosto 08, 2006

Curiosidade botânica do dia










Esta palmeira-das-canárias (Phoenix canariensis Chabaud) situa-se num jardim particular perto dos Bombeiros Voluntários de Braga (junto ao Largo Paulo Orósio), apresentando um espique com uma curiosa bifurcação na parte superior.

Petróleo verde afinal também arde!

"Temos a maior mancha de eucalipto de Portugal". Esta afirmação é do Sr. José Alberto Fateixa, Presidente da Câmara Municipal de Estremoz e vem reproduzida no Público de hoje (2006-08-08).

Ora, depois do incêndio de ontem na Serra de Ossa, os senhores, quando muito, tinham a maior mancha de eucalipto de Portugal. Na melhor das hipóteses, hoje já deveriam ter percebido o erro crasso que foi permitirem esta florestação com eucaliptos (espécie altamente inflamável devido ao facto de produzir óleos essenciais) numa região com verões extremamente secos, quentes e prolongados. Aliás, no mínimo, já deveriam prever que a catástrofe se aproximava, bastando para tal rever as imagens dos eucaliptais a arder descontroladamente em redor de Coimbra no Verão passado... E quanto aos demais eucaliptais desta país, o tempo e os incendiários se irão encarregar deles em próximos verões (ou ainda neste, não percamos a "esperança") , tal como já fizeram no passado com outra espécie altamente inflamável, o pinheiro-bravo (neste último caso, bastou apenas um Verão, o de 2003, para facilmente fazer desaparecer a dita maior mancha de pinheiro-bravo da Europa!!).

Ao ver ontem as imagens dos eucalipatis da Serra de Ossa a arder percebi (mais vale tarde que nunca!!...) as famosas palavras do eng. Mira Amaral, quando afirmou que o eucalipto era o nosso "petróleo verde"! Ele não se referia ao facto do eucalipto nos ir tornar ricos (como o petróleo fez com os países do Golfo) mas sim ao facto do eucalipto ser tão inflamável e explosivo quanto o petróleo!! Que visionário!!!!....Que inteligência!!! Para quando a homenagem a este grande português e a outros, como o eng. Álvaro Barreto, que promoveram a "eucaliptização" de Portugal!! Por onde andam eles para que lhes possamos agradecer devidamente???

Contra as acácias...Arrancar,arrancar!!!!

Uma das frentes de batalha mais importantes deste blog será a da luta (literalmente) sob todas as formas contra as espécies invasoras, nomeadamente contra as acácias (Acacia sp.) de origem australiana, que constituem hoje um gravíssimo problema ambiental no nosso país.
E ao qual só não se dá a devida relevância, porque por cá ainda estamos na pré-história no que toca a questões ambientais...

Querem dois exemplos simples:

- Passados 30 da criação do Parque Natural da Serra da Estrela, este continua a não ter o seu plano de ordenamento aprovado;

- A cidade da Covilhã, uma urbe com perto de 30 000 habitantes, só no presente ano lançou a 1ª pedra da sua futura rede de ETAR. A quase totalidade dos esgotos de um concelho com mais de 50 000 habitantes tem ido parar, sem qualquer tratamento, ao rio Zêzere.

Resumindo: se este fosse um país civilizado, há muito que as atenções estariam debruçadas sobre outros problemas ambientais gravíssimos, como o das invasoras. A este tema, infelizmente, terei que voltar inúmeras vezes no futuro.

Deixo aqui, no entanto,duas sugestões: para quem quiser saber mais sobre esta temática sugiro uma visita a http://www.ci.uc.pt/invasoras/

E para quem quiser, ou tiver disponibilidade, sugiro a participação na seguinte actividade enquadrada no programa "Ciência Viva no Verão":

Título:Espécies exóticas e invasoras( Liga para a Protecção da Natureza)

Data:5 de Agosto às 00:00 Inscreva-se Online (gratuito) 12 de Agosto às 00:00 Inscreva-se Online (gratuito)

Ponto de encontro: Entrada da Mata de Vale de Canas em Coimbra

Localidade: Coimbra / COIMBRA / COIMBRA

Duração: 4 h

Inscrição prévia: SIM - Contacto:964149705 ( das 19h - 22h30)

Responsável pela acção: Joana Maciel Rocha

Descrição: Formação sobre exóticas invasoras e voluntariado no controle de acácias

segunda-feira, agosto 07, 2006

Azinheira monumental


O Algarve não se limita às praias e aos bares da Oura...

Partam à descoberta do interior e da Serra do Caldeirão e, passando por S. Brás de Alportel, percam o medo a ser parolos e façam um pic-nic à sombra desta magnífica azinheira (Quercus rotundifolia Lam.), uma das de maior porte conhecidas no nosso país.

Declaração inicial







Serra da Estrela (ao fundo) com Serra da Gardunha em primeiro plano [vista do castelo de Castelo Branco- Dezembro de 2004]

Servirá este blog para partilha de informações, dúvidas, desabafos ou simples estados de alma entre todos os que na "blogosfera" partilham da paixão pela Serra da Estrela e pelas árvores. E ainda pela defesa do meio ambiente e de um desenvolvimento sustentável e, por último, pelos que partilham o gosto pelo contacto com a Natureza e em particular com a montanha.

Como "inimigos" elegemos apenas a ignorância, nomeadamente dos que persistem em confundir os seus interesses e as suas negociatas com o bem público.

Bem hajam.